Como o
assunto está "na moda", abaixo um texto do Padre Prata.
Ele não
era judeu, não era muçulmano, muito menos cristão. Seu Deus não era Javé, não
era Alá, nem se sabe se adorava um deus ou a vários. O certo é que viveu lá
pelos lados da Caldeia, naquela região onde, hoje, as nações árabes se
arrebentam umas com as outras em nome de Alá e em louvor ao petróleo. É certo
também que era casado com uma mulher belíssima, dessas que assustam os mais
virtuosos passantes.
Aconteceu
que Abraão (era esse o nome dele) sufocado pela carestia que se instalara em
sua região, decidiu morar no Egito. Uma dúvida, porém, o atormentava. Sua
esposa, bonita como era, poderia despertar a cobiça de algum galanteador. As
coisas poderiam ficar pretas. Poderiam até matá-lo pra entrar de posse de tão
irresistível tentação. Com milhões de minhocas na cabeça, Abraão resolveu
chamar Sara (era o nome dela) e propor um estratagema.
“Olhe
aqui, Sara, lá no Egito, você não vai dizer que é minha esposa. Fale que é
minha irmã. Se eles se interessarem por você, diga que é minha irmã, eles a
levarão e eu ficarei vivo e rico.” Não deu outra. Os oficiais do Faraó, vendo
Sara, se deslumbraram com seus irresistíveis encantos. Apossaram-se dela e
levaram-na ao Faraó que se embeveceu. Tão apaixonado ficou que levou Sara para
seu palácio e presenteou Abraão com ovelhas, bois, jumentos, camelos e
escravos. Como se vê, um negócio de fazer inveja a um mensalão. Tempos depois,
quando o Faraó soube que Sara tinha marido, devolveu Sara e nem sequer retomou
as muitas coisas com as quais presenteara Abraão.
Afinal,
por que a Bíblia nos conta coisas assim tão desagradáveis? Há muitos outros
episódios da mesma natureza, de mentiras, trapaças, negócios escusos. A Bíblia
não é chamada a Palavra de Deus? Deus está nos ensinando a fazer coisas que Ele
mesmo condena? Não podemos nunca nos esquecer que as palavras da Bíblia nem
sempre podem ser entendidas literalmente. Uma leitura literal geraria um
fundamentalismo falso e pernicioso. Com esses fatos, Deus procura mostrar-nos
que somos todos frágeis, sujeitos a erros, a todo tipo de crime e perversão. A
corrupção corrói a alma dos homens, mesmo daqueles que deveriam dar exemplo de
seriedade, de justiça, de honradez, de respeito pelos bens alheios, de
fidelidade. O homem afastado de Deus é capaz de praticar as piores
indignidades. Traem até os amigos.
Penso
agora em Judas. Era um dos doze escolhidos. Conviveu com Jesus durante largo
tempo, ouvindo sua Palavra e vendo os sinais que se multiplicavam. Mesmo assim,
ele traiu seu Mestre por “trinta mil reais”. Trinta mil fazem lembrar um
mensalão. Ele, Judas, pertencia a um partido político e era ele quem cuidava da
contabilidade. Sabia fazer uma troca. Entendia de finanças.
Não é
novidade para ninguém. Estamos rodeados por esse tipo de gente. Pior, eles são
os nossos representantes. Votamos neles. Confiamos neles. Botamos as raposas
dentro do galinheiro. Nossas escolhas não nos dão direito a nenhuma queixa.
Padre Prata - Membro da Academia de Letras do
Triângulo Mineirothprata@terra.com.br
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