quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Autorretrato - Guilherme Marchi


O paulista Guilherme Marchi, de 26 anos, tornou-se o grande astro do milionário circuito americano de rodeios. No fim de 2008, ele venceu em Las Vegas o Professional Bull Riders, o maior torneio do gênero. A conquista lhe rendeu, além do título de o melhor peão do mundo, um cheque de 1 milhão de dólares. Marchi, que vive no estado americano do Texas, falou à repórter Mariana Amaro.
"JÁ GANHEI 3 MILHÕES DE DÓLARES NOS RODEIOS"
O que é preciso para se tornar o melhor peão do mundo?
Determinação, muito treino e um pouco de sorte, né? Mas nós, brasileiros, temos jeito para a coisa. Sou o terceiro a ganhar o campeonato mundial. Não que todos os brasileiros montem do mesmo jeito. Peão é como jogador de futebol: cada um tem um estilo. No futebol, tem quem corre e quem dribla. No rodeio, tem quem usa mais a força e quem usa mais a técnica. Tento combinar as duas coisas.
Por que o senhor só disputa provas nos Estados Unidos?

Porque o rodeio é muito mais valorizado. O campeão ganha 1 milhão de dólares. No Brasil, o vencedor das provas mais importantes recebe, no máximo, uns 30 000 reais. Estou em Dallas há cinco anos e nem penso em voltar. Quero que meus filhos cresçam aqui. Manuela, de 4 anos, já monta a cavalo. Se Deus quiser, João Gabriel, de 6 meses, vai ser peão igual ao pai.
Como o senhor ingressou no circuito americano?

Em 2001, quando eu tinha 18 anos, uma comissão da liga de peões dos Estados Unidos veio ao Brasil e me viu montar. Aí, eles se interessaram por mim e me abriram muitas portas. Três anos depois, disputei o cam-peonato mundial em Dallas, e já fiquei por lá. Ser peão era meu sonho de criança. Quando era pequeno, já montava bezerros no sítio da minha avó. Queria imitar meu irmão mais velho, que virou peão profissional com 16 anos.
Como é a vida de peão nos Estados Unidos?

Posso falar da minha. Já ganhei 3 milhões de dólares nos rodeios e sou um homem realizado. Tenho meu rancho, crio cavalos e uns bois de rodeio. Para diversificar os investimentos, abri um restaurante. Depois, descobri que esse é um negócio que dá um trabalho danado. Tem coisa para fazer todos os dias. Ainda bem que quem toma conta é a minha mulher.
Como o senhor se prepara para entrar na arena?

Na hora H, eu peço proteção a Nossa Senhora Aparecida, de quem sou devoto. E ela me protege mesmo. Até hoje, nunca quebrei nenhum osso. Nunca fui parar no hospital por causa de um rodeio. O máximo que já me aconteceu foi uma luxação no pulso. Isso é muito raro. O Adriano Moraes, que é o meu ídolo entre os peões, já quebrou ossos 28 vezes.
Entre os peões, o senhor é chamado de Hollywood. Por quê?

Foi um locutor de rodeio que me pôs esse apelido. Dizia que, se eu não fosse peão, seria artista de cinema, porque sou bonitinho. No Brasil, tenho outro apelido. É Sabonete. Inventaram quando eu era moleque e pegou, mas, até hoje, não sei de onde veio.
As associações de defesa dos animais dizem que os touros de rodeio sofrem maus-tratos. É verdade?

Claro que tem quem maltrate os animais, mas isso não é só no mundo dos rodeios. Em geral, eles são muito bem tratados. O dono do touro que foi campeão do mundo no ano passado ganhou 250 000 dólares. Você acha que ele vai machucar esse bicho? Os animais sofrem é nas touradas. Os espanhóis espetam e matam os touros. É tradição, mas é uma baita crueldade.

Nenhum comentário: